domingo, 3 de outubro de 2010

O Passarinho Joe

Era uma vez um pequeno pássaro e seu nome era Joe. Ele era diferente de outros pássaros. Ele não sabia voar. Qual seria a função de um pássaro que não sabe voar? Pois é, Joe se perguntava a mesma coisa todos os dias.

Lembrou de sua infância quando sua Mãe o jogou do ninho para aprender a voar pela primeira vez. Ele e mais quatro irmãos foram empurrados para fora do ninho de uma alta altura. Todos seus irmãos obtiveram sucesso e saíram voando, meio desengonçados, mas voando. Joe apenas caiu, bateu as asas, girou em volta de si mesmo, e o máximo que conseguiu foi amenizar sua queda. Subiu de volta com ajuda de sua mãe. Ocorreram várias outras tentativas, mas nada funcionava. Um dia, os outros pássaros, inclusive sua Mãe, desistiram de ajudá-lo a tentar voar.

Um benefício de não saber voar é que Joe teve que se especializar em andar na árvore, sem cair. E, isso ele aprendeu bem, pois conseguia ir para qualquer lugar de sua árvore, e inclusive pular para outras, usando os galhos mais longos. Então, no seu dia-a-dia, Joe brincava nas árvores e explorava a floresta a seu modo. Ele sabia que não teria uma visão global das coisas, pois não poderia ver lá de cima, então resolveu conhecer cada pedacinho da floresta, uma visão local do global. E com isso, Joe fez muitos amigos pela floresta, a cada aventura que realizava, e assim ele vivia. Até um certo dia...

--***--


Amanheceu na floresta. Ao surgir os primeiros raios de sol, Joe já abriu os olhinhos, chacoalhou suas penas azuis, tomou seu café da manhã e piou bem alto dizendo: "Estou pronto!" E lá foi ele, pulando de galho em galho, muito rápido, e entusiasmado, em direção ao mesmo local do dia anterior, para que pudesse explorar mais aquela área. Durante toda manhã ficou descobrindo novas árvores, plantas, animais que passavam. Era incrível que mesmo já tendo conhecido tanto, ainda havia muito o que descobrir. De repente, encontrou outro ninho, muito grande e isolado, e percebeu que aquela árvore também era mais alta que as outras. Decidiu então dar um olá. Chegando no ninho havia apenas uma ave, mas não era da mesma espécie que ele. Ela era um falcão.

- Olá, qual seu nome? Perguntou Joe.
- Meu nome é Jenniffer, mas pode me chamar de Jenny. Disse a pequena falcão.
- O que você faz aqui parada no ninho? Por que não sai a voar e descobrir outros lugares?
- Ah, eu não gosto de voar, acho muito chato.

Joe ficou surpreso com aquela resposta. Ele, querendo sempre voar e encontra uma ave que pode mas não gosta.

- E qual seu nome, caro amigo azul? Perguntou Jenny.
- É Joe, mas pode me chamar de Joe, hehehe.
- Hehehe. Vi você chegando. Por que você não veio voando e ficou pulando entre os galhos?
- Isso é porque... ã... eu não sei voar... Falou Joe envergonhado.
- Hahaha! Conta outra.
- É verdade.
- Hm. Oh, que incomum. Mas não é possível isso, aposto que você não aprendeu direito...
- Tentei inúmeras vezes, mas nunca consegui mais que amenizar minha queda... Disse Joe tristonho.

Jenny ficou com pena e como não acreditava que uma ave não pode voar tomou uma decisão.

- Amigo Joe, vou lhe ensinar a voar! Disse Jenny entusiasmada.
- Imagina, vai ser tempo perdido. Melhor você não se preocupar com isso.
- Ah, eu já não faço nada o dia todo mesmo, não custa nada tentar? Falou olhando fixamente para ele, como se quisesse muito.
- Tá bom.
- Ok, nos encontramos amanhã cedo aqui de novo.
- Ok.

No outro dia, Joe foi até Jenny, mas com muito receio. Se perguntava o que seria diferente em aprender com ela o que aprendeu com seus familiares e amigos. Chegou no ninho de Jenny.

- Bem vindo Joe. Vamos começar.
- Olha não sei como podemos começar, afinal não sei nada.
- Na verdade tu disse que sabe algo sim. Pensei em melhorarmos o que tu já sabe.
- Mas o que eu sei? Perguntou Joe com extrema curiosidade.
- A cair e parar a queda. Você disse que ameniza a queda, vamos tentar parar. Mas para isso temos que desejar cair.
- Como assim??? Falou Joe ficando com medo da proposta.
- Vamos de bico para o chão, e antes de bater abriremos as asas e pararemos bruscamente.
- Não sei se consigo.
- Vamos lá!

Então, fizeram esse exercício. Quando Joe se jogou de bico, Jenny orientava ele como deveria ficar as suas asas para atingir a máxima velocidade. Por uma fração de segundo, Joe sentia que estava voando. Aquele vento na cara, alta velocidade, controle da turbulência pelas asas, um sentimento tão agradável, ops, hora de parar! E Joe mal conseguiu amenizar a queda. Jenny ficou preocupada com o choque e foi voando ver como ele estava.

- Você se machucou? Quer continuar hoje ou prefere parar? Perguntou ela com medo de ter machucado o pobre Joe.
- Não, está tudo bem. Vamos de novo! Falou Joe com um grande sorriso em seu bico, enquanto aparentava estar completamente machucado.

Realizaram esse exercício várias vezes, e aos poucos Joe foi melhorando. Jenny achou impressionante o quanto Joe estava se esforçando tanto para aprender a fazer algo tão chato, como voar. Além disso, ela percebeu que estava se divertindo muito com ele ao seu lado durante as quedas livres.

Ao fim do dia, Jenny disse para eles pararem pois já tinham treinado bastante. Joe disse que iria mais uma última vez. Jenny disse que ele já estava muito exausto e que suas asas não iam aguentar. Ele disse que estava tudo bem. E pulou.

Durante a queda, pelo cansaço, Joe não viu um galho, e bateu de frente, saiu rodopiando em direção ao chão. Jenny viu aquilo, e se jogou atrás de seu amigo, mas não ia chegar a tempo. Durante a queda, Joe ficou inconsciente, e pensou em milhões de coisas ao mesmo tempo, até que percebeu um vento em seu rosto. Começou a sonhar que estava finalmente voando de verdade. De repente, ele lembrou que não sabia voar, mas que estava lutando com todas as forças para aprender e tinha confiança que podia realizar aquele sonho.

Abriu os olhos. Abriu as asas. E com todas as suas forças naquele momento bateu elas lentamente, mas com muita força. Joe havia parado no ar, a centímetros de alcançar o chão. E ali ficou, parado, voando, voando parado. Jenny chegou, totalmente surpresa, e piou alegremente:

- Você conseguiu Joe, você conseguiu!

Joe sorriu e caiu no chão. Desmaiou.

(Continua)